A PESCA PREDATÓRIA
por Rodrigo Ribeiro Pontara
Brasília-DF
O homem pratica a pesca há muitos anos, sendo que a maioria de maneira descontrolada, sem medo de que um dia os estoques de peixes acabem em nossos rios e lagos, tão abundantes há décadas atrás!
Via meu saudoso pai, várias vezes, preparar sua tralha e sair com sua turma para pescar no Rio São Francisco, na época famoso pela grande quantidade de Surubins e Dourados de grande porte. Na volta traziam enorme quantidade de peixes. Eram Pintados acima dos 40 kg pegos em grandes quantidades, peixes realmente lindos!
O Pantanal, lembro minha primeira pescaria lá no Rio Cuiabá, quanto peixe... era uma fisgada atrás da outra. Muitos jaús enormes, surubins pintados e cacharas, dourados, enfim, todas as espécies. Em pleno auge daquele lugar maravilhoso, trazíamos dezenas de peixes, sem nos importar com o amanhã. Mas o tempo passa e, como tudo na vida, nossos rios também começaram a perder força, começaram a mostrar sinais de cansaço, passaram a pedir ajuda, mas poucos ouviram. Trazemos na mente aqueles conceitos antigos de que peixe não acaba, água então, temos tanta que não há como acabar. E continuamos com a mesma mentalidade!
Pensei que com o passar dos anos nossos rios continuariam a manter os peixes em pleno desenvolvimento, que a quantidade de peixes cresceria ainda mais, pois o conceito de que peixe não acaba, permanecia vivo! Então, quando fiz 12 anos, vi na televisão um homem que apresentava o programa de pesca, soltando peixes e falando sobre a importância de se pescar e soltar para a conservação do nosso esporte favorito.
Naquele momento percebi que tudo o que pensávamos era uma ilusão. Os peixes estavam diminuindo; nossos rios já não tinham a quantidade de peixes como há anos atrás. Peixes de grande porte então, cada vez mais raros! Naquele momento percebi a importância de se mudar de atitude, aquilo mudou algo lá no fundo e me fez perceber que eu nasci para pescar e soltar, e não matar aqueles que me traziam prazer e satisfação.
Comecei a falar disso com meu pai e seus companheiros. Não adiantou muito, pois eles não acreditavam que os peixes acabariam. Mas eu passei a fazer a minha parte. Comecei soltando um, depois passei para 2 e assim por diante até soltar todos os que pego em minhas pescarias. Passei a sentir um prazer enorme em devolver à vida aqueles que me trazem tanta satisfação!
Mas não foi suficiente, precisava ver meus companheiros fazendo o mesmo e transmitindo este conceito para outras pessoas. Foi muito difícil, pois as pessoas não estão abertas a mudarem de comportamento. Pensam que não existe graça em pescar sem matar.
Com calma fui esclarecendo para eles que estavam equivocados e, entre uma pescaria e outra, eles começaram também a soltar alguns peixes! Começaram a perceber a importância de se permitir a continuidade dos ciclos de vida, para a preservação das espécies.
O tempo passou, tenho 31 anos. Comecei a pescar com seis, e de lá pra cá vi os estoques de peixes diminuirem consideravelmente e percebi que só a minha contribuição não bastava. Precisava fazer mais. Passei a falar com pessoas diferentes, discutir sobre o assunto, mesmo que não tivesse resultado naquele momento, mas falava. Então parei para refletir aonde estava o problema e como foi que chegamos a este ponto. Culpa de quem, das barragens, do desmatamento, das lavouras, dos pescadores profissionais ou de todos estes juntos e somados a vários outros? Nossa culpa também, pescadores esportistas, que antes éramos predadores insaciáveis e que matávamos tudo o que pegávamos.
Nossos atos fazem o mundo melhor ou pior, depende de como interpretamos o que aprendemos, somos todos culpados do que ocorre hoje com nossos rios, lagos, mananciais e mares! A pesca predatória está alavancando ainda mais este processo de perda em nossos rios, quando desrespeitamos o período de defeso dos peixes e deixamos de dar a única oportunidade aos nossos rios de se recuperarem, de permanecerem vivos e cheios de peixes. Quando destruímos matas ciliares, fazemos barragens, pescamos de maneira indevida e em épocas proibidas, fazemos com que as coisas fiquem cada vez pior.
Pratiquem o PESQUE E SOLTE!
05.02.2013