QUEM CONTOU FOI O SARGENTO
Texto e adaptação: João Carlos "Pescador de Jaú"
Homenagem à DONA ROSA (in memoriam) - saudosa cidadã da Colônia Cacheira do Apa e contadora de histórias
Colaboração: SGT IRALA (in memoriam) - PMA/MS - Destacamento do Cachoeirão
(Baseado em fatos)
Um certo dia chegou ao destacamento um morador da Colônia e me pediu que desse uma carona à sua esposa, pois não passava bem e precisaria consultar "um dotôr" – palavras dele, a mulher estava vomitando e com diarreia. Tudo bem. Sem problemas. Afinal estávamos de saída para Porto Murtinho para fazer a troca da guarnição e por isso então, levamos a "dona" e a deixamos no hospital. Ela retornaria com a própria viatura no mesmo dia.
Dias depois, ao retornar para o destacamento para mais uma semana no meu turno, resolvi visitar a Dona Rosa.
- Boa tarde!
- Vamo chegá seu Sargento! acolheu-me ela.
- E a senhora, já melhorou? está passando bem?
- Miorá já miorei, mais tô numa fraqueza... O dotôr, havia sido, qué é me matá, isso sim... suspirou.
E enquanto eu apenas observava, ela mordia uma daquelas típicas Bolachas do Paraguai (dura parecido a pedra) e dava umas "goladinhas" na caneca.
- O que foi que o médico receitou para a dona? A senhora está me parecendo mesmo muito fraca, está pálida, desnutrida...
Nisso, "Girso", o marido dela, que já estava por ali, atalhou a conversa e foi logo se queixando.
- Óia seu Sargento! acho mió o senhor dizê pressa teimosa que ela tem di cumê ôtras coisa, porque já tá acabano a bolacha e o sar só vai dá pra mais hoje, havia sido.
Meio sem entender o que de fato se passava ali, de repente as coisas ficaram mais claras.
- O que a senhora tem comido nesses dias? - perguntei até mesmo para saber se de fato eles tinham comida disponível.
- Eu já tô cansada desses médicos de hoje, viu!? Onde já pensô, seu Sargento, receitá uma coisa dessa pra gente?
- Mas o que foi que o médico recomendou para a Dona?
- Ah seu Sargento! ele mandô que eu só comesse coisa bem leve e falô que podia sê "BOLACHA, ÁGUA E SAR"!
Soltei uma gargalhada incontrolável e logo depois me recompus. O que fazer numa situação dessas? Mesmo sem ser médico, naquelas circunstâncias restou-me dizer àquela dona que ela já poderia comer qualquer coisa e que deixasse a tal dieta "BOLACHA ÁGUA E SAR" de lado. Joguei fora a salmoura da caneca e falei para o marido "Girso" ir até o destacamento que eu lhe daria um pacote de sal.
Coisas da nossa Colônia Cachoeira, desse nosso rico Brasil... Valeu?!