A QUÍMICA DA PESCA

“Você é um louco que comanda um monte de outros loucos para satisfazer a loucura de tantos outros mais loucos ainda”.
Já pensou em tamanha loucura? Não? Então venha pescar e sentir dessa magia.
Por João Carlos “Pescador de Jaú” *
Excluindo-se os que têm a pesca por profissão, o que um cidadão espera de uma pescaria?
Ou então, por que gasta um montão de dinheiro para fazer a tal pescaria onde muitas vezes tem de enfrentar longas viagens, estradas esburacadas e poeirentas, mosquitos e vários desconfortos?
Não poderia ser apenas pelo peixe, até mesmo porque seria mais cômodo e muito mais barato comprá-lo na peixaria, ou até, quando muito, pescá-lo em algum desses pesque e pagues da moda.
Já ouvi de alguns que é puro modismo, ou talvez algo parecido como o escalar de montanhas, saltar de pontes, adentrar em cavernas... Pura aventura, simplesmente.
Encontrar uma razão verdadeiramente óbvia pode parecer missão quase impossível porque a diversidade das respostas é, com a tamanha discrepância, muito complexa e por vezes desencontrada.
Exemplo disso, certo cliente que viera pescar conosco, não pescou. Aliás, nem foi para o rio a ponto de não saber sequer para que lado corria a água do rio. Viera com “outros pescadores”. Comia bastante peixe frito e dormia proporcionalmente um bom tanto após cada sessão da comilança. E assim foi pelos cinco dias que permaneceu na pousada. Isso me chamou bastante a atenção.
- Por que o senhor veio pescar?
- Eu?! Sei lá. Talvez para não ficar louco...
- Mas o senhor nem foi pescar...
- Então já fiquei! - respondeu dando uma gargalhada.
É! Isso realmente parece uma loucura...
Já noutro caso, o cidadão veio pescar em busca de relaxar, mas acreditem, ficou maluco porque, ao contrário dos colegas, não conseguiu fisgar um peixe sequer e ficou muito bravo, deveras. Só perdia anzol, mais nada. Achava enrosco onde não existia.
Outro, ainda disse que veio dar uma “fugidinha” dos problemas. Coitado, por pura ignorância ou talvez negligência, mesmo sem intenção ou maldade, acabou arrumando mais confusão: foi flagrado pescando em local proibido, poucos metros é fato, mas que lhe rendeu uma “salgada” multa. Estressado, doido talvez, não teve a menor chance com qualquer argumentação tentada. Sem falar que também teve as tralhas apreendidas. Ai, ai...
Teve um que veio só para cozinhar para os companheiros – imaginem, acho que sua mulher nem sabia disso.
Teve também um daqueles pais que trouxe o filho para ensiná-lo a pescar, sabe?! Coitado... Nem ele sabia. “O que vale é a intenção” – afirmou.
E mais outro que disse ter vindo porque o terapeuta o havia recomendado (precisamos saber o endereço desse doutor para indicar a outros clientes).
E outro ainda daqueles que, mesmo sem nenhum motivo, veio por ter sido convidado de última hora e que só ficava olhando os demais tentando entender a tal “pescaria”. Nem vara, lnha, anzol, nada tinha, que coisa!...
- Você voltará para “pescar” algum dia desses? - perguntei.
- Com certeza! - afirmou.
- Por quê? Se nem tem material de pesca?
- Para tentar melhor entender a pescaria.
- Mas você não pescou nem um pouco.
- Por isso mesmo. Não tenho material de pesca e não sei pescar.
- Não entendi!
- Nem eu! Por isso que talvez eu volte. Pela magia do todo.
- Você voltará para “pescar” algum dia desses? - perguntei.
- Com certeza! - afirmou.
- Por quê? Se nem tem material de pesca?
- Para tentar melhor entender a pescaria.
- Mas você não pescou nem um pouco.
- Por isso mesmo. Não tenho material de pesca e não sei pescar.
- Não entendi!
- Nem eu! Por isso que talvez eu volte. Pela magia do todo.
Barbaridade, não? O que pensar? Magia mesmo...
Pensando bem, não tem mesmo o que pensar: é participar e boa. Pescar, fotografar, filmar ou simplesmente observar - imagine-se só, um "voyeur da pesca". Melhor ainda soltando os peixes de volta ao rio.
Coisa boa é o tal do pesque e solte, não dá trabalho, não é necessário caixa ou bolsa térmica, gelo, aporrinhação para vistoriar e lacrar, em casa não terá trabalho, a mulher não vai xingar ninguém por causa do cheiro e das moscas que aparecem... Sem contar "aqueless" vizinhos e parentes que não colaboram com o “dim dim” de pagar a pescaria e se sentem com direitos de receber parte do pescado.
“Né mole não, cumpadi!” Por aí vai.
Aliás, dou uma dica: quando quiser comer um peixe em família, agradar a esposa, enfim, leve todos a um restaurante. Pode apostar que vai ganhar pontos para que a mulher “autorize” uma nova pescaria. Bom investimento, isso sim.
E os peixes, bons amigos, que vivam em paz com os seus pescadores porque nem eles estarão preocupados. Quando muito, se vencerem o desafio de fisgá-los, imediatamente os devolverão ao rio, depois é claro de algumas fotografias para recordar (não pode faltar jamais!!!), e em alguns casos até mesmo para “provar” que a pescaria de fato existiu. Opa! Peço desculpas. Quanta maldade a minha. Ai, ai...
Essa, antes teoria, hoje realidade, graças ao bom Deus, cada vez mais praticada – o pesque e solte – com certeza bem serve à autoafirmação do pescador de que é “bonzinho”, que tem respeito à natureza, ao que dará ênfase à sua nova superação: pescar apenas por esporte, pura e simplesmente.
Que maravilha!... A atualização do seu ego dominador, de sua benevolente dominação sobre o planeta. E é até romântico. Cai melhor assim.
Que maravilha!... A atualização do seu ego dominador, de sua benevolente dominação sobre o planeta. E é até romântico. Cai melhor assim.
Por tudo isso, ao final das contas, nossa magnânima mãe NATUREZA agradece, e de certo promete muito, prazer e peixes, por muito mais tempo. Coisa boa. Não enxerga quem não quiser. Verdadeira burrice se não o fizer, e que me desculpe o animal pela referência à sua raça, que nada tem a ver com isso. Força de expressão.
Pesque e Solte de alto nível: UTOPIA? ... Que nada!
De minha parte, como Consultor de Pesca Esportiva (agora na modernidade tem até nome xique = Personal Fishing... "óia isso!"), um fiel prestador de serviços, procurarei incrementar cada vez mais as pescarias com um monte de coisas novas, modernosas, tecnológicas se for o caso, enfim, tudo no melhor intento em (querer) garantir satisfação plena aos nossos clientes pescadores que, por sua vez, diga-se de passagem, somam-se numa lista deveras diversificada, de incontáveis tipos e gêneros. Vejamos alguns "poucos" e interessantes exemplos de pescadores amadores que tenho descoberto e observado nos mais de 30 anos vivenciados nas pescarias:
1. Pescador estressado – muito comum;
2. Pescador estressante – quem já não conhece algum, né?
3. Pescador “fujão” – vem fugir de problemas e só arruma mais;
4. Pescador Cheff – cozinha para os outros – uns gostam do papel porque assim não pagam para participar da pescaria (em vias de extinção);
5. Pescador MacGiver – não tem problema que não dê jeito; tipo sempre bem-vindo em qualquer pescaria, mesmo que tenha outros predicados não tão abonadores.
6. Pescador professor – tudo quer ensinar;
7. Pescador aluno fundamental – no Brasil ainda é a maioria, infelizmente...
8. Pescador calouro universitário – difícil encontrar um bem-preparado;
9. Pescador de rede – de dormir, claro!
10. Pescador telefonista (call center) – liga quase todo dia para saber os preços das pescarias, se tá saindo peixe, pergunta tudo sobre as "tráia", mas nunca compra um pacote de pesca;
11. Pescador mauricinho – mimado, enjoado, quer tudo à mão e quase nada lhe agrada;
12. Pescador bombacha – folgado que só!
13. Pescador de latas – isso mesmo! Sem comentários...
14. Pescador gastronômico – os de JALES (SP) que o digam;
15. Pescador carne de panela – só com muita pressão para poder depois digerir;
16. Pescador espectador – só fica na torcida, na sombra preferencialmente;
17. Pescador político – antes da pescaria promete fazer de tudo para poder participar do grupo, depois só quer mamata;
18. Pescador devoto – esse é dos bons, mantém-se sempre firme na fé da melhor pescaria, chova ou faça sol;
19. Pescador ativista – "Óia nóis aqui gente!!!"
20. Pescador narcisista – será que carrega espelho na caixa de pesca?
21. Pescador Se Vira Nos Trinta – basta chamar, em meio minuto larga tudo para trás e "simbora pescá".
22. Pescador que não pesca – Por que será? Só sei que nada sei. “Peraí, não foi Sócrates quem disse isso?” ... Deve ser um dos tipos mais antigos então. O número destes tipos cresceu um bocado nos últimos anos. Deixa prá lá, não quero dar margem à más interpretações... Égua!
E em tempos de internet e globalização surgem novos tipos, proporcionalmente à velocidade da evolução tecnológica, claro. São bem curiosos:
23. Pescador Wikipédia – tem todo tipo de informação, mas será que é confiável?
24. Pescador Pop Up – entra sempre das formas mais indesejadas em alguns locais ou em conversas;
25. Pescador Cavalo de Tróia – só vem na surdina e pode gerar um estrago sem medida, até mesmo acabar com a pescaria.
Vixi! Como cresce essa lista.
Os mais recentes "espécimes" de pescadores que eu descobri foi pelo WhatsApp, no Grupo “Égua” (nem pergunte o por quê do nome). Numa outra ocasião tentarei falar a respeito, preciso processar melhor para só então "tentar" classificá-los adequadamente, pois falar deles agora daria um livro sem pé nem cabeça... Vixi, entrou ar!... oh fubá véi!... ai ai... Égua!
Contudo, se para o bem do esporte, então que venham mais e mais tipos. Certamente os leitores, daqueles que forem mesmo pescadores, devem ter em mente outra gama de novos tipos. Aqui é democracia gente. Se quiserem contribuir, basta nos enviar.
Nos dias atuais, em que a vida deve ser comparada a uma subida em escada rolante no sentido contrário ao nosso passo, ressalte-se que, parar a caminhada na verdade não pára – a escada rolante faz a gente voltar para trás.
Então... Apesar de a preparação e a implantação das novidades carecerem de muito estudo, tempo e paciência – e isso eu tenho com certeza, sou dedicado e não paro nesta escada rolante.
Com duros anos de estrada, digo, “pescarias” (Oh dureza que é pescar, né não?), atendendo e orientando a pescadores e pescadoras de toda banda do planeta, dando consultoria a hotéis, pousadas, empreendedores do turismo, assessoria em pesca a produtores de diversos programas de TV etc., estou atento a cada nova necessidade.
Espero mesmo que cada um perceba que escrevo com aquele “orgulho de pescador” – muita paixão, eu diria. E aproveitando-me desse mesmo sentimento, posso garantir que muito temos por fazer. Veja bem, eu disse “temos”. Todos os pescadores, prestadores de serviço, mídia, órgãos públicos – todos, juntos.
Bem, de minha parte, apenas para começar, depois de trinta anos de pesquisa in loco, estágios nos diferentes rios do Brasil e do exterior, e muita conversa, com minha equipe, poderemos então iniciar nosso projeto de qualidade, melhor dizendo, de “satisfação total”. Coisa boa. Já estamos quase lá, acreditem.
Feliz com as descobertas, para a satisfação dos clientes cada vez mais exigentes, e que pagarão bem – muito bem, espero – de início ministraremos, sem exagero, alguns “cursinhos básicos” aos nossos funcionários, guias, parceiros, hoteleiros, e até mesmo a clientes interessados (a via é de mão dupla – modernidade!), coisa rápida:
- antropologia;
- astronomia e astrologia;
- meteorologia avançada;
- filosofia;
- psicologia aplicada (eu mesmo já sou doutor honoris causa);
- psiquiatria com ênfase aos temas freudianos;
- teologia;
- ciências ocultas e técnicas divinatórias (quiromancia, tarô, baralho cigano, etc.);
- física (nuclear, quântica, etc.);
- química e fisiologia do sistema nervoso central e periférico;
- contraguerrilha e artes marciais;
- informação e contrainformação, dentre outros.
Isso por básico, que acham? ... Por aí vai. Afinal, quem é pescador sabe: a gente às vezes tem que lidar com cada situação!... Surpresas não faltam.
E podem crer e esperar. Chegaremos lá, ao NIRVANA da pesca, depois, é claro, de lavarmos os nossos pecados predatórios no GANGES da preservação e da pesca esportiva.
E enquanto os cursinhos não começarem, nada de prostração. Estaremos com os pés no chão fazendo o que estiver ao alcance, com muito carinho e atenção, até mesmo naqueles bate papos enriquecedores da cultura inútil, boas “mentiras” de pescador e assim por diante.
Melhor ainda, como diz o personagem Paulinho Gogó, para antes e depois das pescarias hoje temos o “Wap Zat” como eficiente meio de comunicação e interação com os grupos de pescadores... doideira pura, mas das boas. Deus do céu!
Como disse alguém mais louco que eu, o Dr. João (um xará médico): “Você, João Carlos, é um louco que comanda um monte de outros loucos para satisfazer a loucura de tantos outros loucos mais longínquos ainda”.
Já pensou em tamanha loucura? Não? Então venha pescar! Ou consulte esse psiquiatra amigo meu. Ele vai lhe recomendar umas pescarias com a gente. Ah! Perdão! Na realidade ele é ginecologista, mas vale assim mesmo, afinal, coisa boba, ele é pescador também. Foi ele que me chamou de louco.
E se o amigo leitor conseguiu chegar até aqui é porque, se não for louco ainda, quero dizer, pescador, pode crer que já é um forte candidato a algum tipo não citado.
Por favor, acesse mais vezes nossa página na Internet e deixe registradas as suas loucura, digo, seus recados.
Precisamos nos atualizar e superar – sempre, ainda mais em nosso esporte favorito. Afinal, o princípio evolutivo faz com que o mundo esteja em constante transformação.
E que tal contribuirmos, começando por melhorar nossas próprias atitudes? Já leu sobre a Conspiração Aquariana? Experimente.
Quase ia me esquecendo. Assista aos programas de TV Pesca Sem Fronteiras – atualmente apenas pelo Youtube.
Valeu? Forte abraço!
*O autor atua como Operador em Turismo de Pesca. Idealizador, diretor e apresentador do programa de TV Pesca Sem Fronteiras, que deu nome também à Operadora. Militar de carreira do Exército (na reserva), desde 1993 dedica-se à causa da Pesca Esportiva. Fundador da APPATur e da Confraria de Pescadores Esportivos “Amigos do Rio Apa”. Ministra palestras sobre o empirismo e o desenvolvimento sustentável através da Pesca Esportiva no Brasil, dentre outros temas relacionados. Presta consultoria e assessoria a Grupos de Pescadores e a empreendimentos de Turismo de Pesca. Colaborador de revistas, jornais, blogs, sites e diversos outros meios de comunicação ligados à causa do Pesque e Solte e outras com fins ao desenvolvimento sustentável.